Nós
temos uma tendência psicológica de esconder de nós mesmos aquilo que nossa
consciência não suporta. Ou, por outro lado, não paramos de pensar nisso, nos
imaginando numa posição de vítima ou culpado. Ao colocar aquilo que nos causa
mal estar para fora da casa da nossa linguagem acabamos, com efeito, por
acumular fantasmas no porão do pensamento. Contrariamente, ao dividir a mesa do
imaginário e o sofá do simbólico com o corpo do sofrimento real, acabamos por
ter nojo, seja dele ou de nós mesmos, uma vez que o somos.
De
um lado, convivemos no constante medo do fantasma subir à tona e exigir o seu
lugar de fala e ação, de outro, vivemos ressentidos buscando atacar aqueles que
julgamos ter nos prejudicado, ou ficamos má conscientes mutilando a nós mesmos
por ter prejudicado o outro. Uma maneira de encarar essas situações e aprender
a lidar com elas de modo saudável é o processo de sublimação, característico da
arte e das terapias psicológicas, no qual esse conteúdo vem à consciência e se imprime
na pele da fala, do papel, da música, do palco, seja qual superfície for,
contanto que force a produção intelectual de sentido.
arte de Deng Shiqing |
Às
vezes, amigando-se do fantasma, se ganha o melhor aliado para criar uma nova
realidade. Bem como, traduzindo os afetos negativos em arte analítica, deixa-se
de produzir pensamentos e atos nocivos ao outro e a si mesmo. As repetições e
os buracos subjetivos em que caímos são os mesmos porquê focados na lua do ego
não percebemos que estamos a caminhar no escuro.
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