A VIOLÊNCIA DO DIPLOMA

- por Junior Bonfá//
Para que serve um diploma senão para separar aqueles que detém uma suposta qualificação dos desprovidos deste saber? Saber qual garante, em hipótese, produção. Não custa lembrar que a noção de qualificação consolidou-se com o modelo taylorista-fordista de produção, onde a partir desta descrição de qualidades, dava-se o norteamento dos empregos e, por conseguinte, da remuneração. O saber-fazer entra, mais do que nunca, no jogo do mercado, uma vez que a produção em massa exige a mão de obra dos trabalhadores enquanto moeda de troca.
Ao longo do tempo, a escola - digo neste modelo que mais encontramos na sociedade ocidental, sobretudo o curso superior - passa desempenhar um papel central nesta divisão de classe, haja em vista que possibilita o diploma que vai sustentar a posição social do sujeito. Logo, a educação, por conseguinte, também vira mercado. Aliás, onde o capital entra que não vira? Todavia, há aqueles que não conseguem ou querem - por diversos motivos sociais e econômicos que este texto não se propõe tratar - frequentar este espaço e deter um diploma.
O sociólogo frances Pierre Bourdieu considerou que o que faz uma classe admitir sua inferioridade cultural não é a imposição por si, mas a internalização do que é imposto como “cultura”, e a escola é uma reprodutora desta relação. "O louvor à hierarquia, que parecia ser puramente escolar, contribui assim para a legitimação das hierarquias sociais, seja em se tratando dos títulos ou mesmo hierarquia dos estabelecimentos" (BOURDIEU, 2008).
Foucault, muito atento as relações de poder, nos mostrou que “ o diploma serve apenas para constituir uma espécie de valor mercantil do saber. Isto permite também que os não possuidores de diploma acreditem não ter direito de saber ou não são capazes de saber. Todas as pessoas que adquirem um diploma sabem que ele não lhes serve, não tem conteúdo, é vazio. Em contrapartida, os que não tem diploma dão-lhes um sentido pleno. O diploma foi feito precisamente para os que não tem.”

Fotografia de Pietra Araújo

Assim sendo, há uma violência que muitas vezes passa despercebida neste aspecto. Bourdieu nos traz que "quando não percebida, a violência leva o rótulo de violência simbólica, sendo ela uma imposição legitimada, havendo a assimilação de uma cultura dominante, de uma estrutura de relações de força, na qual a vítima não se percebe enquanto tal, já que aceita as imposições como naturais e inevitáveis... o poder simbólico é invisível, só podendo funcionar a partir da cumplicidade das pessoas que não querem saber que estão sob esse jugo ou mesmo exercendo-o.

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